Cresci a ouvir Cesária Évora, @tito_paris_official e Fado de Coimbra. Na nossa casa existia sempre lugar para mais um.
Havia os que traziam o queijo e os enchidos, outros os vinhos e as sobremesas, a guitarra, ou a companhia, o importante era o convívio e havia sempre espaço para todos na mesa.
Até há bem pouco tempo não conhecia o som do silêncio, descobri-o de rompante e sem contar.
Na escola, no trabalho e na vida tínhamos sempre de ser bons, fosse a fazer o que fosse, o importante era darmos o nosso melhor, “Poe quanto és, no mínimo que fazes”.
Nunca parecer, mas sim ser. E fomos sempre tanto na tua presença, minha querida mãe.
Falavas-nos de África como se ficasse no nosso terraço, corria-te nas veias, mesmo com tua silhueta fina e tez clara coberta de sardas, eras melodia, alegria, energia e abraço-casa cheio de poderes curativos. Mesmo com muito trabalho e tão pouco tempo, chegavas a todos, e tantos que somos.
De Angola sabias toda a história, em Cabo Verde tens amigos em cada Ilha, São Tomé foi a tua viagem de pequena, que te marcou para sempre e Moçambique foi a viagem que ficou por fazer.
Agora que estou eu a cumprir a minha lista de desejos, se pudesse pedir, uma única coisa que fosse, era que dançássemos só mais uma vez, mesmo que fosse com o som da nossa coluna pequena e desajeitada da cozinha.
Connosco não era assim tão importante a melodia, fosse qual fosse a música, tu irias sempre vivê-la e senti-la com alegria.
Tens razão, mamã, isto por África é realmente bom. Leve, leve, tal como a vida deve ser.
Vamos falando, vai bailando por aí, espero que não te falte nunca música, um bom vinho e a tua tão doce, meiga e bonita energia 💘💫
